Comoveu-me mas, piegas como eu sou, haverá alguma coisa que não me comova? Porquê? Aquele ar horrível, magríssima, olhos azuis, tão claros que não conseguiam revelar a mínima emoção… alguma vez terá sido bonita? Até foi, certamente, mas porque se aborreceu tanto de si? Fazia parte e um grupo de três ou quatro rapazes todos muito magros, muito feios, tal como ela, vestidos de negro e outros tons indefinidos mas escuros e vários cães grandes e menos grandes, quatro ou cinco, sendo que dois dos cães eram coxos. Pareciam mais bem alimentados que os rapazes.
As drogas devem ser realmente muito boas, darem a quem as toma grande prazer! Mas se há tanta beleza até nas bagas de amoras das silvas que tantos espinhos têm, porque é que estes seres (ainda o serão?) preferem os seus paraísos artificiais, apesar de tanta porrada que apanham da sociedade dita civilizada, e não vêem beleza nem felicidade nas coisas pequenas do Mundo, as mais belas!
Tocou várias coisas à volta das mesas da esplanada. Umas sem pés nem cabeça mas, muito certinha, uma melodia conhecida que ainda mais me emocionou. Andou nisto uns poucos minutos, talvez dez, depois calou-se o pífaro e de boné que tirou da cabeça estendido, veio de mesa em mesa. Quis dar-lhe tudo o que tinha no porta-moedas à semelhança do hipócrita do Fernando Pessoa que dava tudo o que tinha no bolso onde tinha menos dinheiro, ao pedinte e vagabundo… mas não dei. Não me perguntem porquê? Eu acho que foi por cobardia.