«Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo o doce fruito,
Naquele engano de alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.»
Est. 120, Canto III de Os Lusíadas.
Sim, é muito comovente mas será verdadeiro?
Como tudo, em História, é difícil afirmá-lo peremptoriamente. D. Pedro é visto muitas vezes como o “rei gago, mau, furioso, cruel e carrasco”, será possível amar um homem assim? Depois de, na juventude, ter lido “O Monte dos Vendavais” e durante toda a minha vida profissional, trabalhando sempre entre mulheres e ouvindo-as, sei que é possível, para uma grande parte delas. Mas, ele? Amaria mesmo a D. Inês, ou toda aquela fúria era mesmo só isso, fúria gratuita e orgulho ferido, luto nunca conseguido, afirmação tenaz de “vontade de poder”?
A beleza dos túmulos, a transladação do cadáver da rainha (é provável que tenha casado com ela secretamente) de Coimbra para Alcobaça, numa procissão lúgubre, que parou em Condeixa, Pombal e Leiria, foi amor ou ostentação?