03 de Outubro de 2009

   Largo do Pelourinho, Vila Real, Esplanada da   Pastelaria Gomes.

O nosso municipalismo, aliado a uma Ordenação e Organização do Território inexistente, gerou núcleos urbanos que a mais tacanha inteligência se envergonharia de ter concebido. Todos idênticos, todos inexpressivos, todos obtusos. Quem vê um, vê todos. E tal como na minha terra, Pombal, os "centros históricos" (que de boa vontade para lhes chamar assim), que deviam ser o emblema distintivo de cada vila ou cidade, são miseráveis ruínas que a custo se mantêm de pé. Tal como se dizia dos sapateiros e das costureiras, quando os havia, o que interessa aos empreiteiros é obra nova: em série, sem beleza, sem qualidade mas com muito e rápido lucro. Reedificar? Restaurar? Preservar?... Isso é coisa que não interessa a ninguém. Nem aos proprietários, nem aos autarcas (que raio de nome!), nem aos empreiteiros construtores, esses modernos recolectores de volfrâmio.

Tenho corrido o País, os centros urbanos são todos iguais e sem interesse. O que há de belo em Portugal, ou é paisagem que os oportunistas ainda não descobriram, ou património construído por portugueses de há muitos anos. A arte moderna urbana são rotundas, viadutos, avenidas-desvios circulares às pré-existentes urbanizações, baterias de apartamentos para criar pessoas à semelhança dos galináceos. Tudo o que dê bom dinheiro aos construtores e proprietários e ricas luvas aos seus mandantes e engenheiros e arquitectos municipais. Nem sempre mas muitas vezes, os políticos locais também apanham algum!

publicado por MaiaCarvalho às 22:35

02 de Agosto de 2009

Finalmente encontrei uma cidade em tudo semelhante à maneira de urbanizar à “la pombalense”: casas velhas a cair junto de prédios novos de muitos, muitos andares mas, em bastos casos, já com as pinturas ou os mosaicos das paredes, esfoladas aquelas e a cair estes últimos. Palacetes de granito elegantes, ombreando com imóveis inestéticos de vidro e betão.
Até tem Corgobus a rivalizar com os nossos Pombus!
A Linha do Corgo já não funciona com comboios. Agora são autocarros, gastando combustível fóssil, lançando na atmosfera CO2, entre outros gases poluentes.
Claro! Como é que a indústria de estradas e auto-estradas (a maior “produção nacional” depois da adesão à União Europeia) poderia apresentar os lucros que apresenta.
Se houvesse comboios com passageiros e carga para e por todo o país, como é que podiam subsistir as transportadoras de quintal que pululam por lugarejos e aldeias?
Pobres caminhos municipais e vicinais! Neles transitam, não as camionetas de 600 kg ou, vá lá, de duas toneladas, mas camiões de longo curso às vezes com atrelados e pesando 10, 20, 30 e até 60 toneladas. Depois as senhoras câmaras cobrem-nos com asfalto e remendam os estragos causados por estes excessos, com o dinheiro dos contribuintes que  autarcas  criteriosos e excelentes transformam em votos!
A racionalização de transportes foi coisa em que a maioria dos nossos governantes e autarcas nunca ouviu falar e o “zé-da-esquina”, ex emigrante numa frança qualquer,  também não!
publicado por MaiaCarvalho às 18:03

01 de Agosto de 2009

 

 

 

 

 

Passei, este Verão, uns dias em Vila Real.

Que desorganização urbanística! Esta Câmara e estes construtores devem ter andado com os de Pombal na mesma  Escola:

 - Sabem o mesmo.

publicado por MaiaCarvalho às 10:01

14 de Novembro de 2008

 

A obsessão de algumas pessoas por Fátima continua a crescer. Fátima transformou-se num credo de enorme sucesso, num fetiche, que para a maioria da espécie humana é a expressão mais evoluída de religião, sucedânea do antropomorfismo das crenças primárias, que o cristianismo (e outras religiões ditas axiais mas que seria mais correcto chamar de abraâmicas) assimilou e integrou no seu culto, talvez mais humano formalmente, mas de evidente primitivismo na essência.

Respeito e despertam-me sentimentos de compaixão aquelas pessoas que se arrastam pela passadeira de mármore polido que desce da colina, onde antes da Igreja da Santíssima Trindade, estava a Cruz Alta até à capelinha, dita das Aparições, e a circundam em condições deploráveis de repugnante humilhação.

Este culto do sofrimento, do sacrifício e da humilhação é, em meu pensamento, a óbvia negação do cristianismo. Bem pode o Papa clamar que Deus é Amor, Deus caritas est, que esta gente não entende. Parece que os discípulos do Cristo também não entenderam e inventaram uma religião que cada vez se foi afastando mais da essência do pensamento do Crucificado.

E isto leva-me a um outro pensamento: “O que está a fazer à entrada lateral direita do Santuário, delicadamente protegido por uma vitrina que parece uma capela, uma fatia do Muro de Berlim?” Eu sei que puseram na boca dos pastorinhos a «Nossa Senhora» a prometer a conversão da Rússia… mas o muro ainda nem estava feito. Outros afirmam que a queda do muro simboliza a falência do comunismo. Esquecem contudo que o comunismo foi uma resposta séria e coerente à falta de eficácia da Doutrina Social da Igreja, ainda hoje sonegada, e menos ainda praticada, pelos mais fiéis seguidores de Roma. Desconhecem também que a RERUM NOVARUM, primeira encíclica social da Igreja, foi contemporânea de Marx e era uma tentativa de revolta dos pobres contra a impiedade dos ricos. O Comunismo tentou impor à bruta o que a Igreja não era nem é capaz de fazer com paninhos quentes.

Daí eu pensar que este monumento ao Muro de Berlim, em Fátima, é uma intolerável incursão do reino Deus no reino de César.

Do outro lado do Santuário está a pira da cera. Os vendilhões dos templos são indestrutíveis!

publicado por MaiaCarvalho às 08:01

22 de Outubro de 2008

Pombal, também, não é só o quartel general dos "patos bravos" nacionais (gíria lisboeta, do final do século XX, para empreiteiros).


Ainda há alguns jardins (não tantos quanto seria desejável)  bonitos, que nos surpreendem todos os dias.


Um deles é o Jardim do Arunca, onde foram tomadas as fotos que ilustram esta postagem.

 

 

publicado por MaiaCarvalho às 08:38

16 de Outubro de 2008

 

 

«Estavas, linda Inês, posta em sossego,

 De teus anos colhendo o doce fruito,

 Naquele engano de alma, ledo e cego,

 Que a Fortuna não deixa durar muito,

 Nos saudosos campos do Mondego,

 De teus formosos olhos nunca enxuito,

 Aos montes ensinando e às ervinhas

 O nome que no peito escrito tinhas.»

Est. 120, Canto III de Os Lusíadas.

 

 

 

Sim, é muito comovente mas será verdadeiro?

Como tudo, em História, é difícil afirmá-lo peremptoriamente. D. Pedro é visto muitas vezes como o “rei gago, mau, furioso, cruel e carrasco”, será possível amar um homem assim? Depois de, na juventude, ter lido “O Monte dos Vendavais” e durante toda a minha vida profissional, trabalhando sempre entre mulheres e ouvindo-as, sei que é possível, para uma grande parte delas. Mas, ele? Amaria mesmo a D. Inês, ou toda aquela fúria era mesmo só isso, fúria gratuita e orgulho ferido, luto nunca conseguido, afirmação tenaz de “vontade de poder”?

A beleza dos túmulos, a transladação do cadáver da rainha (é provável que tenha casado com ela secretamente) de Coimbra para Alcobaça, numa procissão lúgubre, que parou em Condeixa, Pombal e Leiria, foi amor ou ostentação?

 

 

 

 

publicado por MaiaCarvalho às 12:58

06 de Outubro de 2008

Quase anoitece, debruçado sobre a baía em concha, chá verde e torrada sobre a mesa em que escrevo, a 4 de Outubro, Sábado.

Esta tarde visitámos o Mosteiro de Alcobaça. Só me lembro de o ter visitado em garoto, a caminho ou no regresso de Fátima a Lisboa. Sabia que estavam lá os túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Castro, lembrava-me de uma enorme cozinha, onde a minha avó Emília me ia explicando que era atravessada pelo Rio Baça e misturavam-se nessas memórias de brumas, outras memórias de fotografias de livros de História e de Arte. Mas hoje vi-o conscientemente, não completamente que é fisicamente impossível, mas com a minúcia do que pode ver-se em quatro horas de visita.

Arcos e arcos, corredores e corredores, salas e salas, cozinha, adega, refeitório, claustros, dormitórios, sala do capítulo, igreja, capelas… colunas, cada uma mais espantosa que as outras, de traços, volutas, ramos, folhas, gavinhas, animais, bolotas… os olhos aquietavam-se embriagados, tais os néctares de beleza que nos eram servidos.

Depois apreciámos o trabalho. O bruto e o especializado, o grosseiro e o finamente lavrado… tantos! Há sangue de homens, de alguns certamente, naquelas pedras, mas o seu nome passou, conhecido por meia dúzia de companheiros contemporâneos, ignorado de mestres e artistas e mais ainda dos mecenas que propiciaram a obra. Mosteiro de cistercienses, um ramo notável da família dos beneditinos que tanta importância teve na génese da nação portuguesa. Os domínios desta Ordem estendiam-se das Serras de Aires e Candeeiros ao Atlântico. E se o rei abria assim mão de tal parcela do território conquistado não era por simples questão de Fé, havia mais, um interesse muito material em valorizar, povoar, arrotear, cultivar e criar riqueza. Não para o povo que esse coitado, contentava-se com as migalhas, mas para o clero, essencialmente formado por nobres sem acesso à herança da família.

Continuarei, noutra altura, com os túmulos dos Reis D. Pedro e D. Inês.

 

 

 

publicado por MaiaCarvalho às 19:46

02 de Outubro de 2008

 

Uma manhã de Agosto, no Pingo Doce, no Pombal Shopping. Casa cheia, muitos… como direi, falantes de francoguês, aquela algaraviada a que os franceses chamam ‘langage de concierge’ que se fala muito nos subúrbios das cidades e que os indígenas franceses têm alguma dificuldade em compreender.

Ah, bom! Lá, lá-lá! Bla-bla-bla-la! Ça va!

«Creio já ter sido apresentado numa das faculdades de uma Universidade de Lisboa, uma tese sobre influências do linguarejar dos emigrantes franceses regressados, no vocabulário activo do português comum. E não se trata só do anedótico ‘carné para pôr os chifres do meu marido’, incluem-se também ‘pubela’, escrito assim mesmo no latão do lixo ou o: guarde-me aqui ‘a minha praça’, na fila para entregar os boletins do IRS nas finanças. Isto, sem levarmos em conta expressões, com mais de cinquenta anos, como vacanças ou parachutistas

Passam junto a mim, dois africanos, negros, retintos. Comenta um para o outro:

- Eh pá, estes portugueses vão para a França e esquecem o falar português.

Frase dita em claro e bem articulado português. Quase bati palmas! É por isto que prefiro os imigrantes: Têm um ar lavado, polido, distinto e até falam português escorreito. Os emigrantes em França são broncos, mal alinhados, com ar pouco limpo e desleixado…

publicado por MaiaCarvalho às 14:12

28 de Setembro de 2008

 

 

Esta saída para Ponte de Lima tem-se revelado uma experiência maravilhosa, tenho contactado muito com as coisas da terra, tenho regalado os olhos.

Como é que uma vila, muito mais rural do que Pombal, consegue ter tanto movimento na sua zona histórica? Há gaivotas no ar e o mar, rio abaixo, fica a cerca de trinta quilómetros. Os jardins estão bem arranjados e cheios de pessoas que passeiam e conversam.

O gajo que se lembrou de fazer de Pombal uma imitação de cidade precisava dos poucos neurónios encastoados em bosta.

Vila do Pombal de Cristo, até o nome era bonito para ter sido preservado eternamente. Mas não, um grupo de cagões achou mais progressista o nome Cidade de Pombal. Até o ‘do’ da designação antiga eles enjeitaram. Vejamos o exemplo de uma outra vila pombalina – Oeiras – tem mais de 300.000 habitantes, ocupa uma área geográfica de uns quantos quilómetros quadrados mas quer continuar a ser Vila; Pombal, com 8.000 habitantes, uns dez quilómetros quadrados, se tiver, quis ser parolamente cidade. É, presunção e água benta…

 

publicado por MaiaCarvalho às 19:27

25 de Setembro de 2008

 

A Câmara de Setúbal, através do Programa Polis, conseguiu transformar uma quase lixeira de terrenos incultos, cheios de restos de construções em ruínas, num grande e lindo jardim, com um desafogado parque de estacionamento gratuito, um passeio publico de muito mais de um quilómetro ao longo do rio, onde a relva, os canteiros de flores e as árvores abundam. Há bancos de pedra e de madeira bonitos e não facilmente vandalizáveis, espaços de café com esplanadas, instalações cobertas para ocupação das crianças, terreiro equipado para ginástica e outros exercícios de manutenção (aos sábados há instrutores para treino colectivo, pela manhã e à tarde), mais longe mas ainda à beira-rio, um restaurante com estacionamento próprio e acesso directo à Estrada do Sado.

Alguns reformados, com coletes reflectores como os dos cantoneiros das câmaras, são os Amigos da Conservação do Parque Urbano de Albarquel, que vigiam e dissuadem abusos e vandalismo. Recebem mais uns tostões para juntarem às suas magras pensões. Andam geralmente em grupos de dois, por questões de segurança certamente, e espalham-se pelo jardim e pela restinga de areia.

A praia está com pouca gente mas está calor. Pela manhã parecia que o tempo ia estar coberto mas descobriu e está a aquecer. Sentado no café frente ao mar aprecio a paisagem humana que se move para um lado e para o outro. Há banhistas fora e dentro de água…

Não há mulheres excepcionais! Se calhar até há, só que lhes falta a maquilhagem e um fotógrafo profissional cheio de apetrechos técnicos e iluminação e truques da sua arte. É por isso que nas páginas das revistas há mulheres tão lindas! Se as víssemos com os nossos olhos e ao vivo iam-nos parecer como as outras. Bonitas, sim, algumas mas não excepcionais. A mulher excepcional é uma raridade, vulgarmente, artificial!

Ponhamos os pés na terra, saboreemos a nossa bica e a nossa taça de moscatel e reflictamos:

Não sei se são piores ou melhores gestores, mas os autarcas das câmaras e juntas de freguesias com maiorias comunistas preocupam-se muito mais com equipamentos sociais e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos que os das câmaras de maiorias socialistas ou sociais-democratas. Parece que o maior interesse destes últimos é a protecção dos senhores da terra, dos senhores da indústria e do comércio (sequela dos tempos medievais, com senhores e burgueses a apropriarem da mais valia do trabalho dos servos). Daí o haver mais dinheiro nestas e mais gente feliz e consequentemente saudável nas outras.

publicado por MaiaCarvalho às 19:06

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