22 de Setembro de 2005
Não se pode olhar para nenhum jornal, escrito ou televisivo, em que não apareça a nossa vergonha como povo cilvilizado que dizemos ser.

O que estão fazendo com Fátima Felgueiras é abjecto!

Será que o cidadão comum, a contas com a justiça, tinha aquele tratamento privilegiado?

Será que vira moda os prisioneiros candidatarem-se para serem soltos?

Seremos mesmo um povo ou um agrupamento de tribos que as outras nacções desprezaram e se juntaram aqui neste finisterra?
publicado por MaiaCarvalho às 12:13

18 de Setembro de 2005
O circo chegou à cidade. Soledad Cardinali não vai candidatar-se à Câmara de Pombal e é pena! Priva-nos de uma campanha verdadeiramente espectacular! Com cavalos, chimpanzés, pombas amestradas e ursos a actuarem em liberdade na pista do circo. Trapezistas, equilibristas, contorcionistas e até Tigres de Bengala.
O melhor espectáculo de circo em digressão pelo País.
Ver para crer. Instalado em Pombal no antigo Largo da Feira... ...

Que pena!
A sua ausência na campanha eleitoral empobrece-nos. O que seria um espectáculo real de artistas e feras autênticas, torna-se um acontecimento virtual com personagens requentadas.

Mas não é todo o nosso País, politicamente imaginário, virtual e requentado?
publicado por MaiaCarvalho às 08:31

17 de Setembro de 2005
O Operário em Construção
Vinicius de Moraes


“E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: — Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: — Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.”
(Lucas, Cap. V, versículos 5-8)



Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão.
Pois além do que sabia
— Exercer a profissão —
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
— “Convençam-no” do contrário — Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
— Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro de seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

— Loucura! — Gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
— Mentira! — disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Como o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.



Nota do blogger à maneira de moral da História:
- O azar, ou a sorte, é que o “operário construído”, sempre acabou por aceitar a bênção do patrão, aburguesou-se e vendeu, não já só o seu trabalho, mas também a sua libertação!
publicado por MaiaCarvalho às 18:02

16 de Setembro de 2005
A Dona Maria de Lurdes foi ontem a enterrar.
O sr. padre Manuel fez um bonito elogio da finada e referiu-se às facilidades resmungadas dos professores actuais versus as dificuldades suportadas com humildade pelos professores antigos.
Distinguiu entre trabalho e emprego, que a visão moderna da economia, qualquer que ela seja, confunde ou hierarquiza (primo emprego, depois trabalho)...
Referiu ainda que, mesmo sem grandes instalações, (que nem sempre as havia) desde que houvesse professor mesmo gente modesta podia aspirar a vir a ser padre, policia ou comerciante, doutor ou político. Deu o seu próprio exemplo, ensinado na arrecadação de uma eira, ali para os lados dos Carvalhais.
Era a escola possível e todos a aproveitavam o melhor possível.
Claro que não advogamos esse retrocesso... Mas onde estavam as pessoas da Ranha onde ela tinha ensinado durante vinte anos?
O sr. padre Manuel disse que eram poucos os seus conhecidos de lá que via presentes na igreja!
Sim e os de cá, os da Vila também não eram muitos.
Dos que vi só reconheci antigos colegas da escola, ja de cabelos brancos ou grisalhos.
Conheci a Dona Maria de Lurdes Caldeira em 1983/1984 na Escola nº 1 de Pombal. Naquele tempo ainda não se tinha inventado o 1º Ciclo do Ensino Básico. Era, e devia ter continuado a ser, a Escola do Ensino Primário, o ensino primeiro, o essencial, o que marca, o que imprime carácter.
A dona Lurdes tinha um especial pendor para os filhos dos senhores importantes de Pombal, toda a gente sabe isto. O que não sabem é que ontem, enquanto ela era levada encosta acima para o lado do Castelo, não se viram nem os senhores importantes, nem os seus queridos filhos. Fora da família, só pude vislumbrar professores, muitos também já aposentados, que seguiam respeitosamente o seu féretro.
Mas seria de esperar outra coisa?
Era uma pobre velha já retirada, arrecadada num lar de terceira idade, sem influência na sociedade ou na política. Para quê perder tempo? O que é que se ganhava com um último adeus a um ser humano carregado de qualidades e defeitos?
Pois, é assim... ser-se humano é ter perfeições e imperfeições, mas ...
publicado por MaiaCarvalho às 13:25

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